Empresa chinesa compra mina de estanho de R$ 2 bi na amazônia

Este artigo é extraído do site 'Folha de S.Paulo'

Reserva tem estoque para um século e abriga também niobio e tântalo; há urânio no local, mas não há tecnologia para que seja separado, nem autorização

Uma empresa estatal chinesa comprou as operações de uma mina de estanho na amazônia, num negócio que envolveu mais de R$ 2 bilhões.

A operação da mineradora Taboca, em Presidente Figueiredo, distante cerca de cem quilômetros de Manaus, foi negociada por US$ 340 milhões com a chinesa CNT (China Nonferrous Trade), subsidiária que pertence ao governo do país asiático.

O negócio foi fechado na terça-feira (26) entre a Minsur S.A., até então dona do negócio, e a CNT, e inclui a transferência de 100% das ações na Mineração Taboca S.A. à estatal chinesa, de acordo com comunicado da Taboca. A Minsur, controladora da Taboca, é de origem peruana.

Mina de Pitinga, a 300 quilômetros de Manaus, que foi negociada com grupo chinês - Divulgação/Mineração Taboca

A reserva tem estoque estimado pela Taboca para durar um século. Além de estanho, as terras envolvidas na negociação abrigam também nióbio e tântalo, elementos que são utilizados por empresas tecnológicas para a produção de itens como satélites, capacitores, baterias e foguetes.

“A execução deste acordo de venda está sujeita a determinados requisitos e condições habituais neste tipo de transação. Este novo momento é estratégico e constitui uma oportunidade de crescimento para a Mineração Taboca, pois permitirá que ela tenha acesso a novas tecnologias para se tornar mais competitiva e ampliar sua visão e capacidade produtiva”, afirmou a Taboca no comunicado em que anunciou o acordo de venda com os chineses.

O Governo do Amazonas foi informado sobre a venda feita pela Taboca no mesmo dia. Desde 1969 a empresa tem como área de atuação a mina do Pitinga, na região da hidrelétrica de Balbina, em Presidente Figueiredo.

A reserva, segundo relatos de integrantes do governo, é vista como uma das que podem ser mais rentáveis do Brasil nos próximos anos.

A Taboca se define como uma das poucas empresas ativas no mercado mundial de estanho a ter mina própria e, em meio às mudanças no controle acionário, disse reafirmar “que seu propósito e valores permanecem os mesmos”.

A área também possui resíduos ricos em outros dois elementos, urânio e tório, mas o urânio vai para os rejeitos e não há tecnologia viável para que seja separado. Além disso, ele é considerado um elemento químico estratégico e que depende de autorização da União para ser explorado.

Segundo a INB (Indústrias Nucleares do Brasil), o átomo do mineral pode gerar calor quando a ligação entre os seus prótons e nêutrons é rompida –é o que se chama fissão nuclear. A Constituição, ainda conforme o instituto, determina que a energia do urânio só pode ser utilizada no país para fins pacíficos.

A empresa também afirma que no local há apenas uma estimativa de potencial de recursos de urânio ainda não comprovada e que qualquer produção do material deve contar com sua participação.

“Mesmo que, no futuro, venha a ser confirmada a possibilidade de produção de urânio no local, esta só poderá ser feita em parceria com a INB”, diz.

Já o nióbio tem como principal produtor no país a CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), em Araxá (MG), que explora novas aplicações e acredita que o elemento químico tem um papel fundamental a desempenhar em baterias elétricas, para veículos como ônibus e caminhões.

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