China quer acordo de livre comércio com o Mercosul ou com o Brasil

A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009

A China se diz pronta a negociar um acordo de livre comércio com o Mercosul ou separadamente com qualquer sócio do bloco. É um tema de impacto que dificilmente ficará de fora na visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva planejar fazer à China proximamente.

Durante o 20º Congresso do Partido Comunista chinês, em outubro de 2022, um relatório apresentado pelo presidente Xi Jinping destacou a estratégia chinesa de buscar “uma maior integração na cadeia industrial global e na cadeia de fornecimento e (continuar) a promover a liberalização e a facilitação do comércio e dos investimentos”.

Para isso, o país continuará a negociar “acordos de livre comércio de alto padrão” com seus parceiros comerciais. “Em resumo, a porta de abertura da China para o mundo estará se abrindo cada vez mais. Isto certamente criará mais oportunidades para seu desenvolvimento próprio e para o resto do mundo”, disse.

No fim de novembro, durante o exame da política comercial do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), o embaixador chinês Li Chenggang observou que o Brasil concluiu vários acordos de livre comércio e renovou ou iniciou novas negociações, e deu a mensagem de Pequim: “A China acredita que é fundamental melhorar a integração regional do Brasil e a diversificação das exportações. Nesse sentido, a China encoraja o Brasil a desempenhar um papel ativo na expansão da rede de acordos regionais de comércio do Mercosul com os principais parceiros comerciais”.

Chenggang logo lembrou que a China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, o maior mercado para as exportações brasileiras, fonte grande de importações para o Brasil e contribui fortemente no superavit comercial brasileiro. Indagado pelo Valor para aprofundar o discurso do embaixador, o Ministério de Comércio chinês (Mofcom) respondeu sem rodeios: “Isso significa que a China está disposta a negociar um acordo de livre comércio (ALC) com o Mercosul como um todo ou um ALC com qualquer membro do Mercosul”.

Pequim já tem 22 acordos de livre comércio concluídos, por exemplo com Chile e Peru na América do Sul, além de 10 em negociação e oito “em consideração”, como com a Colômbia. Também fez estudo de viabilidade de um acordo com o Uruguai, o que na prática causaria desmonte do Mercosul como união aduaneira. Diplomaticamente, para Pequim seria mais interessante negociar mesmo com o Mercosul como um todo. Mas confirma o plano B para negociação separada. O governo de Jair Bolsonaro nunca escondeu o ceticismo e a pouca simpatia pelo Mercosul. Já o governo Lula sinaliza sobre a importância não apenas econômica, mas política e estratégica do bloco do cone sul para o Brasil. E a reação ao plano de Pequim será certamente diferente. No entanto, a discussão torna-se menos defensiva em relação à China.

A diplomata e economista Tatiana Rosito elaborou um documento sobre “Bases para uma estratégia de longo prazo do Brasil para a China”, a pedido do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), em 2020 que vai nesse sentido. Tatiana é, agora, a nova secretária de Assuntos Econômicos Internacionais do Ministério da Fazenda.