Bolsonaro teve encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, antes de cúpula do Brics, em Brasília. Após a reunião, os dois presidentes fizeram declaração à imprensa.
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quarta-feira (13), após reunião com o presidente da China, Xi Jinping, que o país asiático “cada vez mais faz parte do futuro do Brasil”. Ele disse ainda que pretende diversificar as relações comerciais com a China.
Após a reunião, Bolsonaro e Xi Jinping deram uma declaração à imprensa no Palácio do Itamaraty, em Brasília. Os dois presidentes participarão na capital federal do encontro de cúpula do Brics, grupo de economias emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Na sua fala, Bolsonaro lembrou que a China é o principal parceiro comercial do Brasil.
“A China é o nosso primeiro parceiro comercial e juntamente com toda a minha equipe, bem como com o empresariado brasileiro, nós queremos mais do que ampliar, diversificar as nossas relações comerciais”, disse.
Durante o encontro, os governos brasileiro e chinês assinaram atos de cooperação em diversas áreas. Bolsonaro destacou que o futuro do Brasil conta com a parceria com a China.
“Os acordos assinados, bem como os protocolos de intenção, serão potencializados por nós para o bem dos nossos povos. A China cada vez mais faz parte do futuro do Brasil. Nosso governo vai cada vez mais tratar com devido carinho, respeito e consideração esse gesto do governo chinês”.
‘Navio da amizade’
Em seu discurso, o líder chinês disse que tem a expectativa de fortalecer a cooperação com o Brasil. Ele disse que os dois países vão trabalhar juntos para garantir o avanço do “navio da amizade China-Brasil”.
“Daqui para frente, a amizade e cooperação sino-brasileira têm um futuro promissor e proeminente, com confiança ainda maior. Vamos trabalhar juntos para garantir que o navio da amizade China-Brasil avance na direção correta, supere todas as dificuldades e chegue com passos firmes a um futuro mais brilhante”, declarou.
Segundo Xi Jinping, os dois países intensificarão as relações para “aumentar e melhorar o comércio e investimentos” em áreas como, agricultura, tecnologia e infraestrutura. O Brasil tem um programa de privatizações e os chineses trabalham na criação de uma nova rota da Seda.
“Vamos continuar discutindo alinhamento na Iniciativa do Cinturão e Rota e o PPI [programa de concessões brasileiro]. Realizar a cooperação em agricultura, energia e mineração, óleo e gás, eletricidade, infraestrutura, ciência e tecnologia, inovação, economia digital, entre outras áreas”, afirmou.
Atos assinados
De acordo com o Palácio do Planalto, o governo brasileiro assinou nove compromissos com o governo chinês, entre tratados e memorandos. Os principais são:
- Justiça: tratado prevê a possibilidade de que brasileiros condenados na China cumpram pena estabelecida pelo judiciário chinês no Brasil. O mesmo valeria para chineses condenados pela justiça brasileira. Eles poderiam cumprir a pena no país natal. O tratado, no entanto, condiciona a efetividade do acordo ao cumprimento de requisitos não especificados.
- Transportes: memorando permite o compartilhamento de informações relacionadas a políticas públicas e desenvolvimento da área, incluindo infraestrutura de transportes, segurança dos usuários entre outros temas.
- Frutas: protocolo anunciado fixa requisitos para a exportação de pêras frescas da China para o Brasil e de melões do Brasil para a China. Segundo o Itamaraty, este é o primeiro protocolo firmado pela China sobre frutas. O objetivo é evitar pestes e pragas endêmicas do país que exporta a fruta.
- Comércio e serviços: memorando para “fortalecer e diversificar ações de cooperação” no setor. O documento divulgado não diz quais serviços serão alvo dessa cooperação, mas aponta a necessidade de “encorajar o investimento do setor privado” para melhorar o bem estar dos cidadãos.
- Investimentos: o ato estabelece uma plataforma para fomentar a ampliação dos investimentos e a geração de empregos. A China é uma das principais investidoras diretas no Brasil, principalmente em áreas de energia e infraestrutura logística.
- Cultura: memorando entre o Ministério da Cidadania e a estatal China Media Group buscará promover o intercâmbio cultural e audiovisual (cinema e TV). O acordo prevê troca de filmes, programas de TV e promoção de festivais de cinema para a divulgação dos produtos. Os países vão conversar, ainda, sobre a criação de um canal de TV a cabo exclusivo para programas e filmes sino-brasileiros.
Encontro do Brics
A programação do encontro do bloco prevê compromissos nesta quarta e quinta-feira, com um fórum empresarial do Brics e reuniões dos chefes de Estado e de governo dos cinco países.
Além de Xi Jinping, Bolsonaro terá reuniões no Palácio do Planalto com os outros líderes que vieram ao Brasil para a cúpula:
- Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia, nesta quarta;
- Vladimir Putin, presidente da Rússia, na quinta;
- Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, na quinta.
A 11ª cúpula, com o Brasil na presidência rotativa do bloco, tem como tema “crescimento econômico para um futuro inovador”.
Segundo o Itamaraty, a cúpula do Brics discutirá o aumento da cooperação entre os países, em especial nas áreas de ciência, tecnologia, inovação, saúde e combate à corrupção e ao terrorismo.
A cúpula dos líderes do Brics ocorre em um momento de tensões nas vizinhanças dos integrantes do bloco, a exemplo do Brasil, que tenta ampliar a pressão contra o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, e que disse estar disposto a colaborar com a transição de poder na Bolívia após a renúncia de Evo Morales, pressionado pelas Forças Armadas.
Brasil e China
O encontro desta quarta foi o segundo entre Bolsonaro e o presidente chinês em menos de um mês. Bolsonaro esteve com Xi Jinping na China em outubro, quando fez uma viagem de duas semanas por Ásia e Oriente Médio.
Durante a visita à China, Bolsonaro classificou de país capitalista, embora seja governado desde 1949 pelo partido comunista. O presidente anunciou que pretende isentar chineses e indianos de visto de turismo e negócios.
Brasil e China assinaram, na oportunidade, acordos para intensificar as relações comerciais, estimulando, por exemplo, o intercâmbio de estudantes e investimentos no setor energético, além da exportação de produtos como carne bovina termo-processada e farelo de algodão, usado como ração animal.
Com uma política externa afinada com os Estados Unidos e após declarações polêmicas no período eleitoral, como a sugestão de que a China não deveria comprar o Brasil, e Bolsonaro adotou tom mais pragmático nas relações com o país asiático.
A China é o principal parceiro comercial do Brasil, à frente dos Estados Unidos, país com o qual trava uma guerra comercial. Assim, Bolsonaro procura incentivar investimentos chineses no Brasil nas áreas de infraestrutura e ampliar as exportações de produtos agrícolas.
No caso da exploração do pré-sal, as empresas chinesas entraram no consórcio com a Petrobras para arrematar um bloco no recente leilão da cessão onerosa.