Segundo o Ministério dos Transportes do Brasil, os governos do Brasil e da China assinaram oficialmente um memorando de entendimento para cooperação no projeto da Ferrovia Bioceânica, marcando o início de uma nova fase de avanços concretos para essa importante obra de infraestrutura multinacional. A ferrovia ligará o porto de Chancay, no Peru, no Oceano Pacífico, ao porto de Ilhéus, no litoral atlântico brasileiro, com extensão total de aproximadamente 6.500 quilômetros.
Com sua conclusão, o projeto deverá reduzir significativamente a dependência do Canal do Panamá, consolidar a posição estratégica do porto de Chancay e promover a integração sul-americana. Além disso, tem potencial para redesenhar as rotas comerciais globais entre a América Latina e a Ásia.

De acordo com o memorando, a estatal brasileira Infra S.A., vinculada ao Ministério dos Transportes, será responsável pela coordenação do projeto no território brasileiro, incluindo coleta de dados, avaliações ambientais e apoio institucional. Pelo lado chinês, o China Railway Economic and Planning Research Institute liderará a formação de uma equipe técnica dedicada aos estudos e à articulação do projeto.
A Secretaria Nacional de Transporte Ferroviário do Brasil confirmou a assinatura do memorando, destacando que o avanço é fruto da retomada da cooperação diplomática e técnica entre os dois países, iniciada em abril deste ano.
Atualmente, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, está no Rio de Janeiro participando da cúpula dos BRICS e se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante o encontro, as duas lideranças testemunharam a assinatura de um segundo memorando de entendimento entre a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China e a Casa Civil da Presidência da República do Brasil, que prevê a integração da Iniciativa Cinturão e Rota com o Novo PAC, o Plano Nova Indústria Brasil, a Política de Transição Ecológica e o Programa de Integração Sul-Americana. O documento reforça a cooperação em áreas estratégicas como infraestrutura, setor farmacêutico e energias renováveis.
A Ferrovia Bioceânica terá início no porto de Chancay, seguirá rumo nordeste atravessando o Peru, a Bolívia e o Brasil, e se conectará à Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL/FICO), atualmente em desenvolvimento no Brasil, até alcançar o porto de Ilhéus. O traçado brasileiro da ferrovia atravessa importantes áreas de mineração (ferro, cobre) e produção agrícola (soja, milho, algodão), com expectativa de aumentar significativamente a eficiência logística das exportações brasileiras e facilitar o acesso direto ao mercado asiático, especialmente à China, reduzindo a dependência de rotas via Estados Unidos e Europa.
Em comparação com as atuais opções de transporte rodoviário e hidroviário, o modal ferroviário se destaca por sua maior capacidade, menor custo e menor impacto ambiental, sendo considerado peça-chave na modernização da infraestrutura logística brasileira e na ampliação de seus canais de comércio exterior.

Quando concluída, a Ferrovia Bioceânica será a primeira linha férrea a cruzar transversalmente a América do Sul, tornando-se eixo central da malha de conectividade regional. Do porto de Chancay à Ferrovia Bioceânica, trata-se de uma expansão estratégica da Iniciativa Cinturão e Rota da China na América do Sul, que deve inaugurar uma nova era de integração e conectividade para o continente.
Fonte: Rail – Trilhos do Futuro