Porto chinês pode aprisionar o Peru a Pequim, diz especialista

Financiamento chinês no projeto, avaliado em US$ 3,5 bilhões, está ligado a condições que podem exacerbar a dívida peruana

Com a presença do presidente da China, Xi Jinping, o governo do Peru inaugurou na semana passada a 1 fase da operação do Porto de Chancay, o maior investimento chinês na America Latina. Com um financiamento de US$ 3,5 bilhões, a instalação localizada a 80 km da capital peruana faz parte do plano de Pequim para expandir a sua influencia no continente sul-americano , mas o resultado para os peruanos pode ser desastroso.

Ao Poder360, o professor de Relações Internacionais e coordenador do Núcleo de Geopolítica do Think tank observa China, Alexandre Coelho, disse que o financiamento Chinês pode limitar os investimentos peruanos em outras áreas, como saúde e educação. Isso porque o aporte chinês não é de graça. Além de 60% do controle operacional no porto, o financiamento pode pressionar o orçamento peruano.

“O financiamento chinês no projeto, avaliado em US$ 3,5 bilhões, está ligado a condições que podem exacerbar a dívida peruana. A longo prazo, isso pode limitar a capacidade do Peru de investir em áreas críticas, agravando a dependência econômica e política no país em relação a Pequim”, disse Coelho.

O Peru também tem muito a ganhar com o negócio. A instalação portuária vai possibilitar o escoamento de produtos da América do Sul para a China por uma rota pelo Oceano Pacífico. O porto terá uma procura alta, especialmente dos países andinos que possuem acordos para a exportação de minerais críticos para as fábricas chinesas.

Entretanto, Coelho avalia que abrir mão do controle de uma infraestrutura crítica para os chineses pode levar até a uma presença militar maior de Pequim. Embora o foco do projeto seja comercial, o Porto de Chancay se conecta a uma rede global de portos com participação majoritária da China, oferecendo vantagens econômicas, mas também implicando riscos de segurança, incluindo preocupações com o potencial uso militar da infraestrutura comercial.

COMO O BRASIL PODE SE BENEFICIAR

O governo brasileiro pode explorar vantagens a partir do novo porto. A China é o principal parceiro comercial do Brasil – assim como de grande parte dos nossos vizinhos. A instalação pode reduzir o tempo de viagem das Commodities brasileiras que chegam no gigante asiático, mas Coelho diz que o Brasil ainda tem um grande desafio em relação à infraestrutura para acessar Chancay.

“O Brasil pode se beneficiar do Porto de Chancay em diversos aspectos, considerando seu potencial para transformar as dinâmicas logísticas e comerciais entre a América do Sul e a Ásia. No entanto, tais benefícios dependem de superação de desafios logísticos internos e de uma integração regional mais efetiva”, disse Coelho.

“A necessidade de melhorias nas rodovias e ferrovias interconectando o Brasil ao peru será decisiva para transformar o potencial do porto em realidade”, completou.

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