Os investimentos chineses no Brasil, de janeiro a outubro deste ano, movimentaram ao menos US$ 10,84 bilhões (R$ 35,3 bilhões. na cotação atual), aponta a consultoria Dealogic. As aquisições feitas por empresas chinesas saltaram de 6, no ano passado, para 17 —e vão crescer ainda mais, estimam analistas que assessoram a entrada das empresas.
A percepção entre eles é que o país viverá uma segunda onda de aportes chineses a partir de 2018, com a chegada de novas companhias de grande porte e uma maior diversificação.
Ao menos dez grandes empresas já estão em estágios avançados para entrar no país, em áreas como energias renováveis, ferrovias, portos, mineração e papel e celulose, segundo Daniel Lau, sócio-diretor da KPMG.
“Muitas empresas começaram a analisar o mercado há cinco anos e foram amadurecendo sua visão. Hoje, as perguntas que nos fazem não são mais básicas, já conhecem os entraves regulatórios, as diferenças fiscais dos Estados, os atrativos de cada região.”
No caso de ferrovias e portos, a entrada dessas companhias já deverá ocorrer no primeiro semestre, com a realização de leilões do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) —no caso do Ferrogrão, um consórcio formado por empresas chinesas já teria se organizado.
Operações de menor porte, em setores como saúde, logística, agronegócio e telecomunicações também vão se acelerar, diz Eduardo Centola, sócio do banco Modal.
“Essa segunda leva vai se intensificar a partir de 2018. A primeira, que teve muito apoio do governo chinês, mostrou que o mercado brasileiro é seguro e abriu caminho para outras virem.”
A incerteza em torno das eleições de 2018 não afetará o processo, avalia Centola. “Na visão deles, dentro de 20 anos, isso não vai fazer diferença.”
O perfil dos investimentos, porém, tem mudado, e os empresários se tornaram mais criteriosos na hora das compras, segundo Lau.
“Não há mais tanto interesse por ativos baratos. Nove em cada vez interessados buscam empresas de grande porte com geração de caixa positiva, mesmo que tenham que pagar mais por isso.”
Há uma maior diversificação dos aportes, o que reduziu o tíquete médio das aquisições, já não tão focadas apenas em infraestrutura.
Parte das operações, no entanto, não teve o seu valor aberto, o que dificulta a comparação anual.
Aos aportes em aquisições somam-se ainda os investimentos em projetos novos, que têm crescido tanto por parte de companhias entrantes como daquelas já estabelecidas, afirma Centola.
É o caso, por exemplo, da China Three Gorges, que após dois anos de compras, se tornou a segunda maior geradora privada de energia do Brasil no ano passado.
“Outras aquisições não são o foco no momento. A prioridade serão novos projetos e a modernização do que já adquirimos”, diz Li Yinsheng, presidente no Brasil do grupo, que planeja investir ao menos R$ 3 bilhões nos próximos dez anos em melhorias de eficiência nas usinas compradas.
A empresa também avalia projetos de geração solar, mas os investimentos dependerão de oportunidades, diz.
A BYD, do setor automotivo e de energia renovável, também planeja acelerar seus aportes. Neste ano, foram R$ 250 milhões alocados na expansão de uma fábrica e na construção de outra.
“Em 2018, vamos construir mais uma planta, de baterias para veículos elétricos”, diz o diretor Adalberto Maluf.
Em um prazo um pouco maior, devem entrar novos grupos em projetos de usinas solares, eólicas e a biomassa. Até agora, não há expectativa de que participem dos leilões de geração previstos para o início de 2018, diz Lau.