Xangai inicia maior lockdown contra covid-19 na China em 2 anos

Embora as fábricas tenham aprendido lições sobre como amortecer o impacto das paralisações, o golpe nas vendas no varejo pode ser mais duradouro

A China lançou nesta segunda-feira seu maior lockdown desde o início da pandemia de covid-19, confinando parte dos cerca de 25 milhões de habitantes de Xangai, principal centro financeiro do país e epicentro de um novo surto de covid-19.

O plano, anunciado no domingo pelas autoridades, dividirá a cidade em duas durante o período de nove dias, usando o rio Huangpu como guia, para que milhões de pessoas sejam testadas para o vírus, à medida que os casos de covid-19 atingem recordes.

“É necessário tomar medidas mais decisivas e resolutas para reduzir ainda mais os contatos sociais, detectar e encontrar rapidamente pessoas infectadas e eliminar completamente a transmissão oculta do vírus”, disse Wu Fan, autoridade da cidade, a repórteres nesta segunda-feira.

As rígidas medidas marcarão o maior lockdown na China desde Wuhan, a cidade onde o vírus foi detectado pela primeira vez no fim de 2019. Na ocasião, 11 milhões de pessoas ficaram confinadas em suas casas por mais de dois meses.

Xangai havia descartado anteriormente um bloqueio amplo para adotar uma estratégia de “triagem” e testar distritos residenciais de alto risco, confinando-os caso infecções fossem detectadas. Ontem, as autoridades voltaram a descartar os rumores de um “lockdown” total.

Uma área ao leste do rio Huangpu foi fechada hoje, com restrição de tráfego, além de pontes e túneis bloqueados. A metade oeste da cidade será confinada a partir de sexta-feira, informou o governo de Xangai, acrescentando que todos que quiserem deixar a cidade terão de mostrar um resultado negativo em um exame.

Os serviços de transporte público estão suspensos. Escritórios e fábricas também estão fechados. Longas filas foram vistas em lojas de conveniência e restaurantes permanecem abertos e atendem a clientes que retiram os pedidos.

A montadora americana Tesla suspendeu a produção em uma fábrica de Xangai por quatro dias. Já a fabricante chinesa de chips Semiconductor Manufacturing International Corp. continua operando.

A Bolsa de Valores de Xangai segue aberta, operando com uma equipe reduzida que recebeu ordens para dormir no local.

A Disneylândia de Xangai está entre as empresas que fecharam recentemente, embora aeroportos, ferrovias e serviços internacionais de passageiros e carga estivessem operando normalmente nesta segunda-feira, disseram as autoridades.

O lockdown iminente provocou uma corrida a supermercados e outras lojas de alimentos. “Depois de ouvir as notícias do confinamento ontem, saí correndo para comprar mantimentos, mas tudo já havia sido comprado”, disse um morador de Songjiang, um dos distritos afetados.

A frustação com as medidas mais rígidas aumenta. Várias postagens nas redes sociais chinesas criticavam a decisão e as autoridades.

“O surto de Xangai não é culpa das pessoas comuns, mas das políticas locais”, escreveu o blogueiro de tecnologia Weiyueqinuy para seus 8,3 milhões de seguidores no aplicativo Weibo, o “Twitter chinês”. “As autoridades locais parecem sugerir que o ponto de virada está próximo, como se estivéssemos vencendo a batalha, mas a situação ficou mais séria.”

Pequim sugeriu medidas mais direcionadas para minimizar os danos econômicos, mas alguns governos locais estão aumentando os testes em massa e as medidas de distanciamento social com medo de serem acusados de negligência, disse o Nomura Research em uma nota nesta segunda-feira.

“A consequência é que a economia chinesa enfrenta a pior pressão de queda desde a primavera de 2020, quando foi atingida pela primeira onda de covid-19”, afirmou o relatório do Nomura.
Embora as fábricas tenham aprendido lições sobre como amortecer o impacto das paralisações, o golpe nas vendas no varejo pode ser mais duradouro.

“Como mostrado pelo crescimento das vendas no varejo no nível das cidades, mesmo um ressurgimento esporádico e de curta duração da covid-19 pode trazer choques notáveis ao consumo e continuar a pesar na confiança do consumidor por meses após a onda de covid diminuir”, afirmou o BofA Securities em nota.

Além disso, os serviços de comércio eletrônico de Xangai foram interrompidos porque os funcionários das empresas de logística também foram obrigados a ficar em casa.

“Eu e mais da metade de nossa equipe de entrega não conseguimos trabalhar desde a semana passada após o lockdown”, disse Zhang Meng, funcionário da SF Express em Xangai.

Algumas empresas adotaram o regime de home office, incluindo a sede do Citi em Xangai. “Permitimos o acesso remoto para nossa equipe e estamos confinantes em nossa capacidade de continuar atendendo nossos clientes”, disse um porta-voz do banco.

Na última sexta-feira, a Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata) disse que mudaria sua assembleia anual de Xangai para a Doha devido às “contínuas restrições relacionadas às viagens na China”.

Xangai registrou 3,5 mil casos de covid-19 no domingo, um novo recorde e mais da metade detectada em todo o país. A maioria deles era assintomática. Há cerca de um mês, a cidade luta para conter o avanço do vírus, como parte da estratégia de “covid zero” da China, que está sendo testada pela variante ômicron.

Fonte: Valor.Globo.com

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